A literatura nunca deixou de ser, na minha escrita, possível, mas apalavra literária (a palavra poética) ter-se-á esgotado excessivamente a convocar o ser e o mundo (a ser ser e mundo) e terá, a certaaltura, caído em si, percebendo que talvez se tivesse negligenciadocomo instância, também, e mais modestamente, de nomeação do ser e domundo, e experimentando então «saudades da prosa». Mas tenho, defacto, consciência de que, desde Cuidados Intensivos (ou, talvezantes, desde Farewell Happy Fields), existe na minha escrita umaespécie de reconciliação com a literatura (com a poesia), que passatanto pela aceitação dos seus processos como da sua memória. Um dosúltimos poemas que escrevi fala das «minhas últimas palavras», aquelas que, «por cansaço, por inércia, por acaso», foram ficando, e comquem, agora, «como velhos amantes sem desejo» desfio memórias. [Manuel António Pina]
A literatura nunca deixou de ser, na minha escrita, possível, mas apalavra literária (a palavra poética) ter-se-á esgotado excessivamente a convocar o ser e o mundo (a ser ser e mundo) e terá, a certaaltura, caído em si, percebendo que talvez se tivesse negligenciadocomo instância, também, e mais modestamente, de nomeação do ser e domundo, e experimentando então «saudades da prosa». Mas tenho, defacto, consciência de que, desde Cuidados Intensivos (ou, talvezantes, desde Farewell Happy Fields), existe na minha escrita umaespécie de reconciliação com a literatura (com a poesia), que passatanto pela aceitação dos seus processos como da sua memória. Um dosúltimos poemas que escrevi fala das «minhas últimas palavras», aquelas que, «por cansaço, por inércia, por acaso», foram ficando, e comquem, agora, «como velhos amantes sem desejo» desfio memórias. [Manuel António Pina]